terça-feira, 26 de abril de 2011

Movimento Assexual


Inicialmente, deve-se esclarecer que assexualidade não é celibato (abstinência atrelada a crenças e práticas religiosas). A Asexual Visibility and Education Network (Aven) é maior comunidade de assexuais do mundo, fundada nos Estados Unidos em 2001 e reúne mais de 30 mil integrantes. Disponibiliza material em 13 idiomas e é referência no tema.
A inexistência de atração sexual pode não ser uma simples escolha ou interpretação do que o corpo não consegue sentir. Há enfermidades e disfunções que comprometem a libido – tratáveis, permitem que a pessoa retome ou inicie uma vida sexual saudável. Um indivíduo pode ter vivenciado algo ruim: um abuso, uma repressão, uma decepção erótico-afetiva ou pode ter medo de se comprometer com a intimidade de alguém. Na ânsia de encontrar um diagnóstico que justifique a pouca empolgação, não se pode desconsiderar que o que à primeira vista parece problema pode não passar de um descompasso.
Segundo Elisabete Regina Baptista de Oliveira, pedagoga, a qual trata da assexualidade entre jovens em sua tese de doutorado pela USP, "a possibilidade da assexualidade como orientação sexual questiona uma das certezas históricas da ciência: a de que o desejo é universal, todo ser humano tem que sentir ou é necessariamente portador de algum problema."
Se forem descartadas possíveis enfermidades e alterações hormonais, a psicóloga e terapeuta sexual Lúcia Pesca julga inviável a anulação das sensações que impulsionam a busca da satisfação sexual e tudo que dela decorre. "É impossível que alguém não tenha uma fantasia. Acho impossível não sentir vontade. Tudo que a gente estuda a vida inteira, neurológica e hormonalmente, não nos deixa explicar isso".
Comerciante e estudante de Ciências Sociais na Universidade Federal de Pernambuco, Júlio Manoel Neto é uma das raras figuras dispostas a falar abertamente sobre o tema. “Sempre pensei diferente das outras pessoas e não via problema no meu desinteresse pelo sexo. O problema é o sentimento de que estamos fora do mundo. Nos sentimos como ETs, com a sensação de que estamos errados. Nunca me obriguei a fazer sexo somente para satisfazer uma convenção social. Aprendi a construir relacionamentos sem sexo. Hoje não tenho namoros convencionais, o que não significa que não tenha relacionamentos. A maior parte dos assexuais, no entanto, faz sexo por não saber que existe a alternativa de, simplesmente, não fazer. É possível, se for a vontade do indivíduo, ver a realidade de uma outra forma, sem a conotação sexual.”

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